Vem no Expresso: "Jovens europeus consomem cada vez mais analgésicos para ficarem "pedrados”". Ansiolíticos e sedativos, apostas online, são o pão nosso de cada dia das novas gerações. O estudo envolveu cerca de 113 mil estudantes europeus, com idades entre os 15 e os 16 anos, de 37 países, o que garante um grau fiável de confiança. Medicamentos para o défice de atenção e hiperatividade também são muito comuns, à medida que cresce a dependência das redes sociais com seus algoritmos e inteligência artificial. Um retrato que nos permite ter esperança no futuro, pois quando estivermos todos algaliados com cabos de rede o sofrimento pode ser canalizado para avatares que vivam por nós a nossa vida. Facturam as farmacêuticas e os bilionários do maravilhoso novo mundo. Um dado importante do estudo é a maioria dos inquiridos avaliar bem a sua saúde mental, o que não inspira dúvidas quando olhamos para a composição actual dos parlamentos europeus: 58 deputados do Chega em Portugal, 33 do Vox em Espanha, 125 do Rassemblement National em França, 119 dos Fratelli d'Italia em Itália, 20 do Partij voor de Vrijheid nos Países Baixos, 30 do Freiheitliche Partei Österreichs na Áustria, 152 da Alternative für Deutschland na Alemanha, etc, etc, etc. Nenhuma relação de causa-efeito existe entre estas realidades e a juventude é o futuro e há que ter esperança no futuro e a Taylor Swift, a Greta e a Malala serão a nossa salvação. Acho que estou a ficar velho. Valha-me o Paulinho na varanda ao lado do Varandas.
antologia do esquecimento
terça-feira, 20 de maio de 2025
OS PEDRADOS
Vem no Expresso: "Jovens europeus consomem cada vez mais analgésicos para ficarem "pedrados”". Ansiolíticos e sedativos, apostas online, são o pão nosso de cada dia das novas gerações. O estudo envolveu cerca de 113 mil estudantes europeus, com idades entre os 15 e os 16 anos, de 37 países, o que garante um grau fiável de confiança. Medicamentos para o défice de atenção e hiperatividade também são muito comuns, à medida que cresce a dependência das redes sociais com seus algoritmos e inteligência artificial. Um retrato que nos permite ter esperança no futuro, pois quando estivermos todos algaliados com cabos de rede o sofrimento pode ser canalizado para avatares que vivam por nós a nossa vida. Facturam as farmacêuticas e os bilionários do maravilhoso novo mundo. Um dado importante do estudo é a maioria dos inquiridos avaliar bem a sua saúde mental, o que não inspira dúvidas quando olhamos para a composição actual dos parlamentos europeus: 58 deputados do Chega em Portugal, 33 do Vox em Espanha, 125 do Rassemblement National em França, 119 dos Fratelli d'Italia em Itália, 20 do Partij voor de Vrijheid nos Países Baixos, 30 do Freiheitliche Partei Österreichs na Áustria, 152 da Alternative für Deutschland na Alemanha, etc, etc, etc. Nenhuma relação de causa-efeito existe entre estas realidades e a juventude é o futuro e há que ter esperança no futuro e a Taylor Swift, a Greta e a Malala serão a nossa salvação. Acho que estou a ficar velho. Valha-me o Paulinho na varanda ao lado do Varandas.
É SÓ UMA INTERVENÇÃO ESTÉTICA
"O ministro dos Negócios Estrangeiros rejeitou hoje
classificar as ações de Israel como genocídio, apesar de reconhecer que a
situação humanitária na Faixa de Gaza, provocada pelo bloqueio e
bombardeamentos israelitas, é “absolutamente intolerável”."
Para ser genocídio, era preciso serem russos, muçulmanos,
chineses, pretos ou indostânicos. Sendo judeus, coitadinhos, são danos
colaterais.
segunda-feira, 19 de maio de 2025
NÁUFRAGOS DO PÁTHOS
"Em seis anos, Chega sobe de 1,3% para 23% e empata com PS." Nos próximos dias vamos ouvir muitos comentários sobre este fenómeno, as televisões vão dedicar horas infindas a este fenómeno, dezenas de comentadores vão debruçar-se sobre este fenómeno, mas é quase certo que ninguém vai perder um minuto a escrutinar os deputados eleitos e as razões por detrás da sua eleição. O fenómeno continuará a crescer, porque vai crescer ainda mais, porque por detrás do seu crescimento não está apenas o descontentamento, não está sequer a ideologia, mas está, definitivamente que está, a rendição do racionalismo ao espectáculo, às paixões exacerbadas e às emoções sem freio. Tudo isto é muito antigo e vem desse páthos que os gregos nos deixaram de herança e Nietzsche associou ao rancor e ao desejo de vingança. As bandeiras do "Portugal é nosso", "os portugueses primeiro", acompanhadas dos chavões do "isto é tudo uma bandalheira" ou a "imigração descontrolada", não têm outra raiz senão o páthos que só com a razão se combate, uma razão que os media dispensam, porque não oferece audiências, e as novas plataformas de comunicação, controladas por bilionários como Elon Musk ou Mark Zuckerber, acorrentam com os grilhões do algoritmo. A razão só traz despesa, não dá dinheiro a ninguém, portanto adaptem-se. É que vai ser cada vez pior, já foi no passado e será no futuro. Querem uma imagem mais eloquente deste eterno retorno do que a hipocrisia com que se tem tratado o genocídio em Gaza? Também no passado os campos de extermínio eram um exagero, uma ilusão, uma mentira. A verdade chega sempre tarde, o páthos encarrega-se de atrasar o relógio.
domingo, 18 de maio de 2025
domingo, 11 de maio de 2025
CITAÇÃO
Diz José Pacheco
Pereira, no Público:
«Acho que nunca
escrevi um artigo em estado de maior indignação. O que se passa em Gaza e no
território da Autoridade Palestiniana convoca não só a política, a geopolítica,
as relações de forças entre Estados, o mundo do “Ocidente” e do Oriente, todos
os conflitos em curso, o “Sul global”, o papel das Nações Unidas, mesmo o
direito internacional, convoca tudo o que quiserem, mas tudo está abaixo de um
repto moral, de uma obrigação de falar, de um dever de protestar e actuar
perante um massacre cruel, diante dos nossos olhos, de um povo, o palestiniano.
Só conheço uma comparação para esta indiferença, vergonhosa e também, ao mesmo
tempo, a mais certeira e, num certo sentido, a mais diabólica: o encolher de
ombros de todos os que sabiam que o Holocausto estava em curso – e havia
muitos altos responsáveis entre os inimigos dos alemães que sabiam – e nada
fizeram.»
O resto leiam lá,
se encontrarem.
quinta-feira, 8 de maio de 2025
DESUMANIDADE
Sempre houve ordens de expulsão a imigrantes em Portugal. Se bem sei, mais de 2000 em 2022, cerca de 1500 em 2023, etc. O que agora acontece é outra coisa: os imigrantes deixaram de ser pessoas, o discurso da chamada direita moderada adoptou a estratégia da extrema-direita fazendo dos imigrantes meros números, bodes expiatórios para os males da nação pura, carne para canhão, força de trabalho. Não são pessoas como nós, com família, desejos, ambições, vontade, paixões, não são seres humanos com sentimentos nem razão, não sofrem como nós sofremos nem pensam como nós pensamos. São um produto perecível, uma coisa que se importa para se lhe dar uso até deixar de servir. Só não são gado, como eram quando a escravatura estava institucionalizada, porque ainda não temos quem os guie à chibatada, embora já tenhamos quem lhes chame animais. Enfim, a descolonização portuguesa só tem 50 anos. Há por aí muita gente que ainda não aprendeu a ser pessoa, alguns até são ministros e falam do futuro de outros seres humanos como quem fala de exportação de bananas ou importação de carne. Conclui-se, com este andar da carruagem, que pouco mudou na mentalidade colonial portuguesa, que, à semelhança da mentalidade racista norte-americana, vê no imigrante não um semelhante, não um dos demais entre os quais também eu me encontro, mas antes um produto perecível, uma espécie de barril de petróleo ao preço da uva mijona e com cabeça, tronco e membros que, por acaso, só por mero acaso, se assemelham aos de seres humanos. Este nível de desumanidade a que regressámos tem vindo, paulatinamente, a deslocar-nos para o que era o mundo no século XIX. Todas as conquistas em matéria de direitos humanos herdadas no pós-guerra, a segunda, a dos nazis, estão a ir pelo ralo com a força das circunstâncias: uma Ucrânia esbulhada, uma Gaza onde tudo vale, uma China rendida ao capitalismo selvagem, uma Ásia exportadora de mão de obra barata, uma América oligarquizada, um mundo regredado única e exclusivamente pelo egoísmo dos interesses financeiros.
quarta-feira, 7 de maio de 2025
ALFACES
O tonto do Ergue-te conhecido como ex-juiz foi para a televisão gritar este slogan: "Connosco Lisboa vai voltar a ser alfacinha." Dei uma gargalhada, pois por certo escapou ao tónhó a origem da palavra al-face, que vem lá das nossas raízes muçulmanas na forma al-khass. Há até a tese, enfim, é uma tese, de que a expressão alfacinha vem de nesses tempos árabes a alface ser muito cultivada nos altos de al-Ushbuna, isto é, Lisboa. Enfim, tudo isto é triste, tudo isto é fado (que também há quem defenda ser música com raízes mouriscas).
terça-feira, 6 de maio de 2025
TER ALGO A DIZER
gostava de ter algo
a dizer
sobre manhãs de
pássaros
o sol a romper
entre cortinas
de nuvens
passageiras
aromas expelidos
pla terra
húmida em plena
primavera
paletas de corolas
nos
caminhos das
aldeias
mas acordei com
cães vadios
a farejarem mortos
entre as ruínas da
cidade
e com um deles a
roer ossos
de uma entre
milhares
de crianças
ceifadas
pela gadanha do
ódio
então que a voz
emudece
e os olhos procuram
de novo
a escuridão de um
sono débil
no silêncio da casa
limpa
Juraan Vink
(Versão de HMBF)
segunda-feira, 5 de maio de 2025
SOMOS NÓS
Isto está a
acontecer: «Siwar Ashour nasceu na guerra e na fome e não conheceu mais nada
para além disso. Agora corre perigo real de morrer sem nunca ter conhecido um
momento de paz ou contentamento. A menina palestiniana de seis meses, cujo
corpo dolorosamente emagrecido simbolizava a fome deliberada de Gaza quando
apareceu na BBC esta semana, pesava apenas 2,5 kg quando nasceu a 20 de
Novembro do ano passado. Desde o nascimento que Siwar tinha um problema no
esófago que lhe dificultava a ingestão de leite materno e a deixava dependente
de fórmulas infantis especializadas, que são extremamente escassas.» Isto tem
vindo a acontecer sob o silêncio e a cumplicidade criminosos da maioria dos
países da UE e da própria UE. Não há ONU nem NATO nem nada que valha a estas
crianças, elas não contam. Netanyahu continua com o genocídio de um povo e o
mundo assiste. Isto é o mundo, somos nós.
domingo, 4 de maio de 2025
HERDEIROS
As guerrinhas entre herdeiros são fenómeno frequente em
Portugal, mais engraçadas quando o que há para herdar é uma espécie de estatuto
cheio de nada. Ele é os herdeiros de Vítor Silva Tavares, ele é os herdeiros de
Luiz Pacheco, ele é os herdeiros de Saramago (mais finos, com direito a
documentário), ele é os herdeiros de Herberto... Enfim, há para todos os
gostos, sempre aquém do legado, com mais escola e menos vida. Nas datas
comemorativas, sobretudo nos "tenários", lá nos chega aos ouvidos a
algaraviada dos herdeiros. O mais avisado é mudar logo de canal, que, já dizia
Eça, também ele com seus herdeiros, isto é só "a tristonha e baixa gula do
ouro".
sábado, 3 de maio de 2025
DOMESTICADORA DE GIRASSÓIS
Os 14 contos de Domesticadora de Girassóis, mais
extensos do que é habitual neste autor, exploram universos fantasmagóricos com
personagens que tentam equilibrar-se entre o real e o imaginário. O que há de
anómalo e de paradoxal nas situações recriadas encontra na multiplicidade
formal, que vai da ficção narrativa ao poético, da crónica ao drama, do relato
autobiográfico à prosa ensaística e ao diário, vias de expressão para seres
cuja existência está em permanente conflito com um mundo onde a separação entre
caos e ordem perdeu qualquer sentido.
236 páginas
Maio de 2024
Venda directa – pedidos para: companhiadasilhas.lda@gmail.com
Também disponível
Venda directa – pedidos para: companhiadasilhas.lda@gmail.com
Também disponível
na Snob: https://www.livrariasnob.pt/product/domesticadora-de-girassois ;
na Wook: https://www.wook.pt/livro/domesticadora-de-girassois-henrique-manuel-bento-fialho/30047346
;
na Bertrand: https://www.bertrand.pt/livro/domesticadora-de-girassois-henrique-manuel-bento-fialho/30047346
;
na Livraria Almedina: https://www.almedina.net/domesticadora-de-girass-is-1717207529.html
...
sexta-feira, 2 de maio de 2025
ESCALA
Podem organizar um debate do Miguel Morgado com o próprio
Miguel Morgado seguido de notas pelo Miguel Morgado? É só uma ideia. Aposto que
rebentaria a escala.
quinta-feira, 1 de maio de 2025
quarta-feira, 30 de abril de 2025
UM POEMA DE ONO NO KOMACHI
Que triste é pensar
que eu acabarei apenas
como essa neblina
esverdeada e longínqua
a flutuar pelos campos.
In O Japão no Feminino I. Tanka - Poesia dos Séculos IX a XI, organização e versão portuguesa de Luísa Freire, livros nanook, n.º 1, Companhia das Ilhas, Março de 2025, p. 29.
terça-feira, 29 de abril de 2025
APAGÃO TOTAL
Desengane-se quem julga que a luz voltou, as trevas
vieram para ficar:
"Israel parece determinado a destruir a estrutura criada para garantir o
cumprimento do direito internacional de uma forma que terá consequências
profundas que se repercutirão muito para além da Palestina, segundo o Tribunal
Internacional de Justiça."
No The Guardian.
DE MÁ CONDIÇÃO
Calhou assim, não foi propositado. Chegou-nos ontem, Dia
Mundial da Árvore e da Poesia, este segundo volume da Colecção Insónia. O
primeiro foi "A Dança das Feridas". Esperámos 13 anos por ele, eu, a Maria
João Lopes Fernandes e o Pedro Serpa.
Tal como aconteceu no passado, também deste volume não
farei apresentações públicas nem distribuição pelas livrarias. Trata-se de uma
edição única, minha e da Maria João - autora das pinturas na capa e no
interior, originais concebidos para este efeito -, que em nenhuma circunstância
deverá ser objecto de qualquer reedição.
Quem tiver interesse num exemplar, poderá contactar-nos,
a mim ou à Maria João, por Messenger (Facebook, Instagram) ou email. O meu
email é fialho.henrique@gmail.com. O valor de capa, com portes incluídos, é 10€.
São 78 poemas e 9 reproduções de pinturas da Maria João Lopes Fernandes. O
design e a composição é do Pedro Serpa.
Em memória de minha mãe, Clarisse Maria Tavares Bento.
Saúde.
segunda-feira, 28 de abril de 2025
APAGÃO
Ataque russo (que não existiu), declarações de Ursula von
der Leyen à CNN dando conta de ciberataque (que foram inventadas), incêndio em
França (com 4 anos), uma horda de especialistas sem fim com teses e teorias
para todos os gostos. O espectáculo da informação é isto, este fluxo de
sentenças que para nada nem a ninguém serve, esta cloaca máxima de opiniões
alimentada por imbecis. Se com um apagão de nove horas é isto, imaginem quando
sofrermos na pele o que sofrem as pessoas em Gaza, na Ucrânia, no Iémen, no
Sudão, na Síria, etc, etc, etc... Porque vamos sofrer, mais tarde ou mais cedo
vamos mesmo sofrer. E é óbvio que não estamos minimamente preparados. Tudo tão
ridículo aqui à nossa volta que é impossível não sentir vergonha.
Subscrever:
Mensagens (Atom)